sexta-feira, 12 de setembro de 2008


Mar

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Terra e Mar. Técnica Mista 46x65 cm

2 comentários:

Mello disse...

O Mar cantado por Sophia de Mello Breyner Andresen, tem outro som, consegue encher-nos de esperança...

Neste quadro, pareceu-me ver o mar a invadir a terra, não com brutalidade, mas sim de mansinho com quem conta um segredo.

Beijinhos,

Graça Mello

Alexandra Cunha disse...

O mar já é de extrema beleza por si só, mas Sophia de Mello Breyner Andresen consegue enaltecer ainda mais...

beijinhos